terça-feira, 2 de outubro de 2012

Reflexões provocadas por "Ouvir para aprender"

"De todos os sentidos, o mais importante para a aprendizagem do amor, da vida em conjunto e da cidadania é a audição. (...) É do silêncio que nasce o ouvir. Só posso ouvir a palavra se meus ruídos interiores forem silenciados. Só posso ouvir a verdade do outro se eu parar de tagarelar. Quem fala muito não ouve. (...) Não nos sentimos em casa no silêncio. Quando a conversa pára por não haver o que dizer, tratamos logo de falar qualquer coisa, para pôr um fim ao silêncio."
O parágrafo acima é composto de trechos do magnífico texto de Rubem Alves (Ouvir para aprender). O parágrafo abaixo é uma passagem do livro O homem à procura de si mesmo de Rollo May, publicado em 1953.
"Importante não é o que se diz, e sim que haja sempre alguém falando. O silêncio é um grande crime, pois significa solidão e medo. Não se deve aprofundar as sensações, nem levar muito a sério o que se diz. Aparentemente as palavras produzem mais efeito se a pessoa não tenta compreendê-las."
Ou seja, nunca soubemos lidar com o silêncio, sempre procuramos quebrá-lo com a nossa tagarelice e, consequentemente, não sabemos ouvir, pois, como diz Rubem Alves, é do silêncio que nasce o ouvir. E sendo a audição o mais importante dos sentidos para a aprendizagem do amor, da vida em conjunto e da cidadania, creio que esteja perfeitamente explicado o porquê da violência que se alastra por este planeta "dominado" por uma espécie que se julga a única inteligente do Universo (sic).
Sim, o importante não é o que se diz, e sim que haja sempre alguém falando. O importante não é o que se diz, e muito menos se alguém está ouvindo, pois a única coisa que importa é falar. Não se deve aprofundar as sensações, nem levar muito a sério o que se diz, são duas das características mais marcantes desta sociedade superficial e descartável na qual sobrevivemos. É de um livro intitulado Tópicos Especiais em Física das Calamidades o parágrafo abaixo.
"Às vezes as pessoas dizem coisas só para encher o silêncio. Ou para chocar e provocar. Ou como exercício. Aeróbica verbal. Musculação loquaz. Há inúmeras razões. Só muito raramente as palavras são usadas estritamente por seus significados denotativos."
Todo mundo quer falar. Ninguém quer ouvir. Todo mundo quer ser escutado. Como não há quem os escute, os adultos procuram um psicanalista, profissional pago do escutar. É preciso escutar as crianças para que a sua inteligência desabroche, diz Rubem Alves. E, no meu entender, é preciso escutar também os adultos para que a sua inteligência não atrofie.
Impressiona-nos quem fala bonito, porém amamos não a pessoa que fala bonito, mas a pessoa que escuta bonito. Mas é tão pequena a quantidade de pessoas que escutam bonito! Ouvem-se muitos comentários do tipo "Fulano fala muito bem", mas poucos do tipo "Sicrano ouve muito bem". Portanto, que tal desenvolvermos o hábito de escutar bonito? O que é isso? É "ouvir vazio". É ouvir sem interromper quem estiver falando. Sem falar ao mesmo tempo. Sem achar que já sabe o que ainda vai ser dito ou que já entendeu o que ainda não foi dito. É ouvir com atenção. Ouvir vazio requer inclusive ouvir com os olhos, pois é ouvindo também com os olhos que se percebe o verdadeiro sentido das palavras.
Aprendi o conceito de ouvir vazio em um seminário da UNIPAZ; em uma vivência que consistia em uma pessoa ouvir o que outra fala e ao final lhe dizer o que tinha escutado. Quanto maior fosse a semelhança entre o que a pessoa falou e o que a outra disse ter escutado maior seria a capacidade de ouvir vazio. Consegui me sair bem na vivência, passei a praticar o ouvir vazio, e o recomendo a vocês.

2 comentários:

Nathalia Matoso Balsamao disse...

Quando deparamos com a solidão à dois (à três, a dez..), a angústia se faz mais alarmante.

E como ouvir, se não conseguimos sequer relacionar?...

De fato quem tem o dom de escutar, tem mais capacidade e sensibilidade para compreender o caos patológico humano consubstanciado no superficialismo...

Um grande abraço.

Guedes disse...

Oi Nathy,

Parabéns por este comentário e também pelo que fez sobre a postagem “A necessidade de conversar”. Eles demonstram o reconhecimento da necessidade que os seres humanos têm de conversar e da imprescindibilidade de saber ouvir para poder conversar.

Um abraço,
Guedes